16 nov, 2023
Percevejos,
lagartas, corós e besouros podem estar presentes no momento da semeadura e
causar prejuízos com o consumo de sementes, raízes e plântulas, sucção de seiva
e introdução de patógenos. Redução do estande e vigor das plantas são algumas
das consequências e causam reflexos na produtividade
Com o fim do vazio sanitário da soja, mais um
ciclo da cultura teve início nos estados produtores. O período de semeadura e a
fase de emergência das plantas são cruciais para o desenvolvimento da safra e
exigem muitos cuidados, entre eles o controle de pragas e doenças. Em Mato
Grosso, é importante que os produtores rurais fiquem atentos à incidência,
principalmente, de corós, percevejo castanho-da-raiz (Scaptocoris castanea
e S. carvalhoi), lagarta elasmo (Elasmopalpus lignosellus), Spodoptera
frugiperda e coleópteros como o cascudinho (Myochrous armatus), além
das espécies desfolhadoras (Diabrotica speciosa / Cerotoma arcuata /
Megascelis sp e Maecolaspis sp).
Lucia Vivan, doutora em Entomologia e
pesquisadora da Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso
(Fundação MT), orienta que para corós e percevejo castanho-da-raiz é importante
ter o histórico das áreas, pois esses insetos se mantêm nelas e podem abranger
áreas maiores no decorrer dos anos. O mesmo tem sido observado para o
cascudinho, espécie com população e abrangência de ocorrência cada vez maior.
Para S. frugiperda, a especialista
explica que a população presente na área está relacionada à cultura na
entressafra, sendo que essa espécie apresenta grande número de plantas
hospedeiras. No entanto, de forma geral, áreas com tigueras de milho, milheto e
gramíneas podem ter populações altas e lagartas residentes. “Estas terão o
hábito de lagarta-rosca, causando corte de plantas na emergência”, pontua.
Há ainda mais uma espécie que pode estar
presente no início de desenvolvimento da cultura da soja, o percevejo
barriga-verde (Diceraeus melacanthus).
A praga está relacionada a tigueras de milho, plantas de cobertura e daninhas.
A pesquisadora orienta que o tratamento de sementes pode ser eficaz no
controle, mas o manejo de invasoras auxilia na redução de populações iniciais
que serão potenciais problemas para o período reprodutivo da soja e para o
milho segunda safra. “Nesse caso, trata-se de um manejo no sistema de
produção”, acrescenta.
Controle no pré-plantio
Para a lagarta elasmo é importante acompanhar
as condições climáticas, pois anos com distribuição irregular e períodos de
veranico no momento de plantio da soja podem favorecer essa população. Áreas
com plantio de sorgo na segunda safra também podem ter infestações superiores.
Lucia explica que o tratamento de sementes deve ser utilizado, mas ainda assim,
em períodos secos, é possível que ocorram ataques e perdas de plantas.
Segundo a entomologista, para S. frugiperda
o monitoramento no pré-plantio é importante, pois lagartas maiores, a
partir de segundo instar, não serão controladas pelo tratamento de sementes.
“Nesse caso, deve-se fazer um controle pré-plantio com manejo na palhada, com
dessecação antecipada ou uso de produtos recomendados para esse momento”,
esclarece.
Já para o cascudinho, o tratamento de sementes
minimiza os danos, no entanto, essa população apresenta fluxos de emergência de
adultos, sendo necessário o monitoramento para decisão de aplicações foliares.
“Pode-se dizer o mesmo para os coleópteros desfolhadores”, completa a
pesquisadora.
Importante
As culturas hospedeiras podem proporcionar
fontes de alimento e sobrevivência das pragas (ponte verde), resultando em
maior número de gerações/ano. Portanto, de acordo com a especialista, o
tratamento de sementes, o acompanhamento das previsões de precipitações e o
histórico da área e populações presentes na palhada para a decisão de
dessecação antecipada, são fundamentais para minimizar os problemas.
O clima tem grande influência e períodos com
baixa precipitação merecem mais atenção, pois as plantas se desenvolvem menos e
ficam mais suscetíveis ao ataque de pragas. Além disso, quando o clima está
mais seco diminui a eficiência dos produtos em geral. Outro ponto importante,
conforme orienta a especialista, é que podem ocorrer surtos de lagartas, uma
vez que a precipitação é um regulador natural dessas populações.
É possível evitar danos ainda maiores?
Com o monitoramento das áreas, o produtor
saberá qual ou quais pragas estão presentes e a dimensão do ataque, assim,
poderá fazer a escolha das ferramentas. Para pragas de solo como corós e
percevejo castanho-da-raiz, a entomologista explica que a única ferramenta é o
tratamento de sementes ou a pulverização no sulco de plantio, “pois não há
produtos aplicados na parte aérea que atinja as raízes, que é onde os insetos
se alimentam e causam danos”.
O mesmo se aplica para lagarta elasmo, pois
esta praga penetra na planta de soja à altura do colo, cavando uma galeria
ascendente no interior do caule, alimentando-se do mesmo, e as pulverizações na
parte aérea não são efetivas devido a esse hábito. “Por isso, é tão importante
conhecer o histórico da área, pois essas medidas devem ser tomadas no momento
do plantio”, acrescenta a doutora.
Com relação aos coleópteros desfolhadores,
devem ser combinadas as ferramentas tratamento de sementes e pulverizações
foliares. Isso porque ocorrem fluxos de emergência de adultos dessa espécie ao
longo do tempo e o tratamento de sementes apresenta um período curto de
atuação, porém, muito importante para o estabelecimento da cultura.
Por fim, para a lagarta S. frugiperda é
necessário o monitoramento semanal a fim de identificar aumentos populacionais
e tomar a decisão de controle em relação à população e danos em plantas. “As
ferramentas para seu manejo são uso de feromônio para interrupção de
acasalamento, uso de produtos biológicos e produtos químicos”, finaliza a
pesquisadora da Fundação MT.