27 abr, 2022
Pesquisador da Fundação MT esclarece como o produtor pode melhorar a
performance da adubação nas regiões com esse perfil de áreas
Muitos desafios moldam o cultivo em qualquer lugar do planeta hoje. No
Brasil, isso é ainda mais acentuado pelo status que o País alcançou nos últimos
anos como um dos principais fornecedores de alimentos do mundo. Para isso,
eficiência é uma palavra primordial em várias etapas da agricultura. Como é o
caso da utilização dos nutrientes em solos argilosos, que demandam atenção e
cuidado para alcançar os melhores resultados.
O pesquisador da Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato
Grosso, Fundação MT, engenheiro agrônomo e mestre em Ciência do Solo, Felipe
Bertol, relata que, atualmente, solos argilosos são as principais áreas que
podem ter redução de adubação de forma segura. Essa que é uma das práticas
adotadas frente à instabilidade e aumento de preços dos produtos. “Será
possível nestas áreas cultivadas há um bom tempo, com sucessivas adubações, com
acidez corrigida, bons históricos produtivos e níveis dos principais nutrientes
(principalmente fósforo e potássio) retirar montantes de fertilizantes para
realocação em áreas mais críticas e frágeis, onde é visível a dependência da
adubação mineral”, aponta.
O que são solos argilosos
Para entender, é preciso saber primeiro o que são esses solos. Segundo o
triângulo textural mencionado pela Embrapa, é um esquema utilizado para classificação
da textura do solo; argilosos são aqueles que possuem em sua análise, teor de
argila entre 36 e 60%. De modo geral, sem influência da agricultura, são
aqueles com alta capacidade de retenção de água e nutrientes, bons teores de
matéria orgânica e resistência à mudança de pH. “Quando derivado de
argilominerais não expansivos, os solos argilosos são fisicamente muito bons
para a agricultura, visto que possuem bom suporte ao tráfego de máquinas e
estão localizados em áreas planas a onduladas. Contudo, quando realizada a
abertura de áreas há a necessidade de uma correção química, em razão da elevada
acidez e a baixa disponibilidade de nutrientes, principalmente o fósforo”, explica
o pesquisador.
Por outro lado, após um investimento inicial e sucessivos anos de
cultivo e aporte de nutrientes, estes solos são mais resilientes do que os
arenosos, suportando por mais tempo estratégias de redução de adubação.
Como ser mais eficiente
Os principais critérios para a recomendação de uma adubação consideram a
dinâmica do nutriente no solo, quantidade disponível dele e a expectativa de
produtividade. Como ferramentas adicionais de ajuste de doses, Bertol aponta: a
experiência do agricultor, conhecimento e caracterização das áreas, dinâmica
das diferentes culturas do sistema produtivo, além dos históricos de adubações
e produtividades.
“Os solos argilosos são caracterizados por possuírem maior quantidade de
sítios de trocas de cargas, consequentemente, têm maior retenção de nutrientes.
Isto impacta diretamente na disponibilidade de nutrientes imóveis, como é o
caso do fósforo e do potássio”, explica o pesquisador. A definição de
disponibilidade e consequentemente probabilidade de resposta do fósforo está
condicionado à textura do solo, ou seja, um mesmo valor na análise pode
significar níveis de disponibilidade diferentes de acordo com a textura.
“Por exemplo, o valor de fósforo de 7 mg/dm³ em uma análise é
classificado como BAIXO em solos com menos de 35% de argila (arenoso a misto),
MÉDIO naqueles com 36 a 60% de argila (argiloso) e MUITO ALTO nos solos com
mais de 60% de argila (muito argiloso)”, detalha Bertol. Assim, em solos
argilosos (36-60% de argila), a probabilidade de resposta à adubação nesta
situação é menor do que nos de textura média-arenosos (menor 35%).
Já para o potássio, o principal critério é a capacidade de troca de
cátions (CTC); o nitrogênio em alguns manuais, a matéria orgânica do solo; e o
enxofre e micronutrientes, as quantidades interpretadas na análise. “Um ponto
de partida para conhecimento das interpretações e critérios para definição de
dose dos nutrientes, podem ser acessados nos manuais, mas é importante frisar
que são ferramentas que auxiliam na tomada de decisão e devem ser adaptadas
conforme as situações”, frisa o especialista da Fundação MT.
Repor para ganhar
Se bem e corretamente feita a reposição dos nutrientes exportados pela
produtividade de grãos nos solos argilosos, desde que não haja um fator
limitante, o único ganho mensurável ao agricultor será o financeiro. “A
estratégia parte do princípio que mantemos os níveis dos nutrientes em
patamares em que a resposta da adubação não é significativa. Desta forma,
adubar mais não fará diferença, aumentando o custo e estocando este nutriente
no solo”, relata Bertol.
A estocagem de nutrientes como fósforo e potássio no solo não
necessariamente é ruim, visto que eles podem ser utilizados em momentos de
crise, como o atual. Mas, o pesquisador diz que é importante ponderar que não
haja perdas por escoamento superficial e demais processos erosivos. “Ou seja,
no fim das contas, fazer a adubação de reposição é somente manter o que já foi
construído”, salienta.
Pesquisas em andamento
Os protocolos da Fundação MT têm objetivos diversos no âmbito de Solos e
Sistema de Produção, sendo os principais focos os sistemas de produção e
rotação de culturas, manejo da adubação, tecnologias de fertilizantes e manejo
de corretivos de acidez do solo. O mais antigo é o de Rotação de Culturas na Soja,
ou mais conhecido como RCS, e tem 14 anos de condução no Centro de Aprendizagem
e Difusão (CAD) – Sul, em Itiquira – MT. “Temos também áreas com 11 anos de
esgotamento (sem aplicação de qualquer fertilizante) e os históricos muito bem
documentados. Também, há respostas em doses e modos de aplicação de fósforo em
protocolo de 12 anos. Estes estão inseridos no cenário do sul do estado de MT
que é predominantemente sistema soja/milho”, detalha Bertol.
Já no CAD-Médio Norte, em Nova Mutum, a instituição desenvolve o
protocolo Manejo da Adubação do Sistema Soja/Milho Safrinha, em que são
testadas doses de fósforo e potássio aplicados na soja e três níveis de
adubação no milho. Sua instalação aconteceu na safra 2013/2014. E contemplando
o sistema produtivo soja/algodão, no CAD-Oeste, em Sapezal, estão instalados
experimentos com doses e épocas de aplicação de potássio em um período de seis
anos.
Tema do Encontro Técnico Soja
Este assunto será um dos temas em destaque durante o XXII Encontro
Técnico Soja da Fundação MT, este mês, de 26 a 29, no Hotel Gran Odara, em
Cuiabá. Na ocasião, os pesquisadores abordarão alguns critérios para utilização
eficiente dos nutrientes em solos argilosos. “Esse assunto tentará contemplar o
comportamento destes solos a longo prazo na ausência total de adubação, assim
como os principais pilares para uma redução segura da adubação: histórico de produtividades
e de adubações, e análise de solo”, finaliza Bertol.
Fundação MT: Criada em
1993, a instituição tem um importante papel no desenvolvimento da agricultura,
servindo de suporte ao meio agrícola na missão de dar vida aos resultados
através do desenvolvimento de tecnologias aplicadas à agricultura. A sede está
situada em Rondonópolis-MT, contando com três laboratórios e casas de
vegetação, um centro de pesquisa local e outros seis Centros de Pesquisa
Avançada (CAD) distribuídos pelo Estado, nos municípios de Sapezal, Sorriso,
Nova Mutum, Itiquira, Primavera do Leste e Serra da Petrovina. Para mais
informações acesse www.fundacaomt.com.br e baixe o aplicativo da instituição.