13 jun, 2022
Nematoide que acomete a parte aérea da planta,
ainda com poucos resultados de estudos, também é o vilão causador da Síndrome
da haste verde e retenção foliar na soja, e apresenta maior perigo com
incidência elevada de chuvas
Não é só o produtor de soja que deve se preocupar com o ataque de Aphelenchoides besseyi, nematoide que se
alimenta de fungos presentes no solo e restos culturais e que parasita a parte
aérea da planta. Na soja, causa a Síndrome da haste verde e retenção foliar
(“Soja Louca II”), que leva a mais de 60% de abortamento das inflorescências. Mas ele não fica restrito a
oleaginosa, os pesquisadores - a nematologista Rosangela Silva, da
Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso, Fundação MT, e Santino
Aleandro, da Agronema, consultoria nematológica, tem visto a campo grandes
estragos do fitonematoide em lavouras de algodão, com perda em alguns casos de
80% a 100% dos frutos, ou seja, das plumas.
Um fator muito importante para quantificar o nível de infestação e
multiplicação desse nematoide é o regime de chuvas. Se desde o início do
plantio da cultura houve muita precipitação e com constância até o
florescimento, segundo Santino, observa-se situações em que as perdas vão de 80
até 100% da produção de frutos. “O produtor não vai colher nada nessa área que
foi atacada. É uma preocupação que se deve ter com a soja, mas também com o
algodão”, destaca. Um dos agravantes apontados por ele são as regiões sob pivô
pois, ainda que a chuva cesse, é possível criar condições favoráveis “por conta
da umidade oferecida pela irrigação”.
Situação em Mato Grosso
Referência em produção de algodão, Mato Grosso plantou na safra
2021/22, segundo o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea),
uma área de cerca de 1,12 milhão de hectares. No Estado, o início da semeadura
acontece de dezembro a fevereiro e a colheita a partir de junho, momento que
possivelmente as lavouras implantadas mais cedo já estão sendo colhidas. “É a
partir daí que o produtor vai verificar as perdas, visualizando até a presença
de plantas que continuam vegetando quando deveriam começar a senescência. Ainda
que ele possa utilizar o dessecante químico, essas plantas podem continuar
vegetando”, pontua o pesquisador da Agronema.
Esse ano, os meses de janeiro, fevereiro e março foram chuvosos,
mas dentro da média prevista, com o acumulado mensal na casa de 200 milímetros.
No entanto, em abril, a quantidade de chuva caiu significativamente, ficando
abaixo de 80 milímetros. “Essa redução influencia na presença dos sintomas de Aphelenchoides porque deixa de oferecer
condição ideal para o desenvolvimento do patógeno”, conta Santino. Ainda assim,
não se pode descuidar, já que ano após ano, de acordo com as condições
climáticas, há maior ou menor incidência do problema.
Identificação recente
A Síndrome da haste verde da soja é
relativamente nova. Seu agente causal foi identificado há quase uma década e,
somente em 2017, a presença da doença foi observada no algodão, especificamente
no município de Sapezal-MT. “Já sabemos que em áreas onde há o patógeno sem o
manejo de plantas daninhas, o problema tende a ser mais agravado porque boa
parte delas, principalmente as leguminosas e dicotiledôneas, multiplicam mais
esse nematoide, permitindo que esteja não só presente no campo, mas em maior
quantidade”, explica Rosangela.
Santino diz que o plantio direto traz uma série de melhorias para
o solo e produção, mas, por outro lado, também oferece condições de manutenção
desse fitonematoide, por causa da umidade e da palhada, que permitem a
multiplicação de fungos. Estes, por sua vez, alimentam Aphelenchoides besseyi na entressafra. A introdução desse nematoide
nas áreas em que ainda não há a sua presença também pode acontecer por meio do
plantio de sementes forrageiras, especialmente a braquiária, “que não foi
devidamente processada, que tenha restos de torrões e sem tratamento nematicida”.
A recomendação de ambos os pesquisadores é evitar, sempre que
possível, a sequência de plantio de algodão em áreas que estavam com soja com
histórico da Síndrome da haste verde. Também orientam para que, em plantações com
grande infestação, adote-se o revolvimento do solo. A prática, mesmo ainda sem
dados técnicos científicos de comprovação, é observada com bons resultados
aliados à utilização de nematicidas em tratamento de sementes e/ou aplicação de
algum produto foliar.
“Estamos em um momento inicial das pesquisas. Há vários testes com
produtos químicos e biológicos sendo conduzidos. Ainda não temos uma posição
técnica que ofereça um manejo com a certeza de um nível de controle
satisfatório. A Fundação MT está com experimentos em andamento e esperamos em
breve ter resultados. Por isso, fica o alerta para a máxima atenção às
lavouras, seja de soja ou algodão”, completa a pesquisadora Rosangela.
Fundação MT: Criada em 1993, a instituição tem um importante papel no desenvolvimento da agricultura, servindo de suporte à classe agrícola na missão de dar vida aos resultados através do desenvolvimento de tecnologias aplicadas à agricultura. A sede está situada em Rondonópolis-MT, contando com três laboratórios e casas de vegetação, um centro de pesquisa local e outros seis Centros de Pesquisa Avançada (CAD) distribuídos pelo Estado nas cidades de Sorriso, Nova Mutum, Sapezal, Itiquira, Primavera do Leste e Serra da Petrovina.