11 ago, 2023
Especialistas que estarão presentes no
XV Encontro Técnico Algodão, da Fundação MT, de 28 a 30 de agosto, em Cuiabá,
afirmam que boa parte das lavouras do Estado vão alcançar mais de 300 arrobas
por hectare
A safra de algodão 2022/2023 no Brasil tem
apresentado resultados promissores nos principais estados produtores. Diferente
do ciclo passado, quando problemas climáticos prejudicaram o desenvolvimento
vegetativo e a formação de capulhos e resultaram em produtividades abaixo da
média. Segundo estimativas da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão
(Abrapa), o país deve colher três milhões de toneladas de pluma, acréscimo de
18% em relação a 2021/22 e considerado um patamar histórico.
O ciclo atual do algodão ocupa 1,67 milhão de
hectares, o que coloca o Brasil entre os quatro maiores produtores mundiais,
atrás de China, Índia e Estados Unidos. Mato Grosso, com 1,2 milhão, é o maior
produtor nacional e a retrospectiva da safra 22/23 no Estado, com seus desafios
e aprendizados, será um dos temas do XV Encontro Técnico Algodão, de 28 a 30 de
agosto, em Cuiabá. Realizado pela Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de
Mato Grosso (Fundação MT), o painel vai debater o que aconteceu em cada região
produtora de MT na manhã do dia 29 de agosto.
Márcio Souza, coordenador de Projetos e
Difusão de Tecnologias do Imamt - Instituto Mato-grossense do Algodão,
moderador da retrospectiva, destaca que no Estado o plantio de algodão sofreu
em média dez dias de atraso. A semeadura aconteceu entre o final de janeiro e
10 de fevereiro e preocupou os produtores que temiam que faltasse chuva no mês
de maio, trazendo efeitos negativos para a produção como na safra passada. No
entanto, houve bom volume de chuvas, que chegaram até junho na maioria das
regiões.
O cenário de precipitações estende o ciclo da
cultura no campo, mas, por outro lado, ajuda a garantir bom potencial produtivo
e qualidade de fibra. Esta é a expectativa de entidades e cotonicultores até o
momento, com cerca de 26% da área colhida. “Acreditamos em recorde de produção
nas lavouras da BR-163. Sapezal e Campo Novo do Parecis vão produzir muito bem,
assim como o Sul do Estado, e Vale do Araguaia ficará dentro da média. No ano passado
se falava em 235 arrobas por hectare em caroço, mas esse ano esperamos
produtividade média de 300@/ha, com regiões passando disso. Será um dos
melhores anos historicamente em MT”, indica o coordenador do Imamt.
Desafios
Apesar do otimismo trazido pela boa condição
climática, doenças e pragas exigiram atenção dos produtores de algodão também
nesta safra. O alto volume de chuvas até o mês de março e a frequência de
precipitações até abril formou um ambiente de favorabilidade para a Mancha alvo
(Corynespora cassiicola), principalmente, além de Mancha da ramulária (Ramulariopsis spp.)
e Mofo-branco (Sclerotinia sclerotiorum).
“Dos primeiros 50 dias até 110 dias, a pressão
maior foi de Mancha alvo, causando severa desfolha das plantas e, em casos mais
graves, levou ao abortamento das maçãs. Em seguida, a partir de 120 dias, com
ambiente mais seco, a incidência dessa doença reduziu consideravelmente e a
Ramulária ganhou importância”, destaca João Paulo Ascari, fitopatologista e
pesquisador da Fundação MT.
O especialista explica ainda que os problemas
com Mofo-branco também ocorreram durante a fase reprodutiva da cultura, muito
em função da maior umidade presente. No entanto, a maior incidência de
estruturas com podridão foi em regiões mais altas, acima de 500 metros de
altitude.
Com relação às pragas, a incidência do
Bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis) foi maior em lavouras do Sul
de Mato Grosso, de acordo com o coordenador do Imamt. “Para um ou outro
produtor causou problema de produção, mas quem realizou o manejo de controle de
forma mais adequada, respeitando as recomendações preconizadas pela pesquisa,
obteve sucesso”. Ele enfatiza que para a próxima safra a espécie precisa ser
considerada como preocupação, mas “não que esteja fora de controle, é uma questão
de manejo correto de produtos em algumas áreas”.
Por outro lado, Ácaro-rajado (Tetranychus
urticae), segundo Souza, está presente em todas as regiões e demanda
atenção máxima para a prevenção da sua ocorrência e rotação de produtos
disponíveis para controle. “Outra problemática que tem crescido no algodoeiro
são as plantas daninhas, sendo o Capim-pé-de-galinha em todas as regiões, a
Vassourinha-de-botão na BR-163 e o Caruru, além do Capim-pé-de-galinha, em
Sapezal e Campo Novo do Parecis”, acrescenta.
Bahia
Para contribuir com o relato da safra de
algodão na Bahia, onde foi semeado 312,6 mil hectares, e também um resumo da
safra Brasil, estará presente no Encontro Técnico o engenheiro agrônomo e
consultor Ezelino Carvalho, membro do Grupo Brasileiro de Consultores de
Algodão – GBCA. Para ele, a atenção da próxima safra deverá ser com o El Niño e
o que pode ser feito para minimizar os seus efeitos. “Pode alterar o regime de
chuvas e sabemos que para as regiões Norte e Nordeste pode ser mais seco”, define.
Se confirmada a presença do fenômeno, o
consultor acredita que serão necessárias mais ações preventivas para o controle
de lagartas comuns ao algodoeiro, ácaros e também de trípes (Thysanoptera:
Thripidae). “É um problema difícil de controlar em anos mais secos, sendo
necessárias mais aplicações”, completa.
O consultor alerta, ainda, para a perda de
eficiência de biotecnologias desenvolvidas para o controle de lagartas
(Lepidópteras). “Foi motivo de atenção nessa safra e seguirá assim na próxima.
De acordo com os dados de campo, esse é um problema que impacta diretamente na
rentabilidade da lavoura - custo das tecnologias somada ao custo de inseticidas
- e com o clima seco a intensidade de lagartas é maior e, consequentemente, o
número de aplicações”, observa Carvalho.
O evento
A retrospectiva da safra também vai contar com
os relatos dos grupos Biacon (Norte e Médio Norte), Locks (Oeste), WDF Agro
(Sul) e Horita (Bahia). E também com a palestra “O clima e seus efeitos sobre o
desenvolvimento da planta - safra 22/23”, com o pós-doutor em fisiologia do
algodoeiro e coordenador do programa de pós-graduação em agronomia da Unoeste,
Fábio Rafael Echer.
Essa será uma das temáticas do nosso XV
Encontro Técnico Algodão, que será realizado entre os dias 28 a 30 de
agosto, no Hotel Gran Odara em Cuiabá, o evento tem como objetivo disseminar
dados de pesquisas, apresentar posicionamento da Fundação MT, e promover
diálogos sobre os gargalos da cotonicultura.
Inscreva-se e participe conosco: https://bit.ly/encontro-tecnico-algodao