5 set, 2022
Em 2020, o Brasil voltou a ocupar o quinto lugar entre os maiores
produtores de algodão do mundo - ao lado de Índia, Estados Unidos, China e
Paquistão, atualmente o País é o segundo maior exportador mundial da commodity.
São dados que mostram não só a potência da produção nacional, mas a superação
de desafios ao longo das décadas. Um exemplo foi o bicudo-do-algodoeiro que se
alastrou e destruiu plantações inteiras nos anos 90 e, mais recentemente, a
pandemia da Covid-19 e a guerra entre Rússia e Ucrânia que impôs dificuldades
do cultivo à comercialização.
Nesta safra 2021/22, Bahia e Mato Grosso, responsáveis por 91% da
produção nacional de algodão, estão contabilizando, na reta final da colheita,
médias de produtividade abaixo da expectativa inicial e problemas com a
qualidade de fibra de suas produções. O excesso de chuva no início da semeadura
e o término das precipitações ainda no mês de abril são as causas dos fatores
negativos deste ciclo. E apesar deste resultado e de aspectos que estarão
presentes na próxima temporada, como o alto custo de produção, é possível
vislumbrar mais crescimento e mais valorização do algodão brasileiro perante o
mundo, e até mesmo os primeiros lugares em produção e exportação.
A expectativa foi apontada pelos participantes do painel de abertura do
XIV Encontro Técnico Algodão, realizado de 29 a 31 de agosto em Cuiabá. Com o
tema ‘Desafios da cultura do algodão e tendências para o futuro’, o debate
inicial mostrou que há muito trabalho sendo feito para aprimorar a imagem do algodão
brasileiro perante mercados compradores exigentes, como Ásia e Europa, como ações
de promoção da fibra com ênfase na sustentabilidade e rastreabilidade, da
lavoura até etiqueta da roupa.
Júlio Busato, presidente da Abrapa, foi um dos convidados e contou sobre
visitas recentes a inúmeros países que importam a pluma do Brasil, como
Turquia, Indonésia, Tailândia e Bangladesh. Em todos, o destaque foi a opinião
de que o algodão brasileiro tem melhorado nos últimos cinco anos e que querem
comprar mais algodão do nosso País. A Missão Compradores, também da Abrapa,
percorreu estados brasileiros que têm o cultivo e recebeu dos visitantes
internacionais as mesmas informações positivas.
Marcelo Duarte, diretor de Relações Internacionais da Abrapa, também
participou do painel direto de Singapura, onde atua, e disse que o grande
objetivo é fortalecer a confiança internacional sobre o algodão brasileiro para
que ele possa ser vendido com um diferencial muito pequeno ou mesmo se igualar
ao americano, que é o referencial.
O cotonicultor Alexandre Bottan e o presidente da Ampa, Paulo Sérgio
Aguiar, também presentes no painel de abertura, relataram os problemas
climáticos vivenciados nesta safra, mas também apostam com otimismo na
crescente do algodão nacional lá fora.
Outros aspectos
Além da melhor visibilidade do algodão brasileiro, que tem sido
conquistada ao atender os critérios de qualidade exigidos pelos importadores,
outros aspectos atuais contribuem para que o Brasil tenha mais chances de
expandir suas posições nesse mercado. Uma delas está atrelada aos problemas
climáticos dos Estados Unidos, segundo maior produtor atrás da Índia. O país
está sofrendo com seu principal estado produtor, o Texas, com baixa produção e
produtividade devido à seca. Carca de 60% das lavouras estão em condições
ruins.
A China, por sua vez, não terá muito impacto em sua produção de algodão,
porém, seu governo prioriza a segurança alimentar. Neste caso, se for preciso,
a área do algodão é reduzida para dar lugar ao milho.