11 ago, 2022
Nebulosidade, atraso no crescimento vegetativo, escassez hídrica, enchimento das maçãs prejudicado, foram alguns dos problemas que permearam o ciclo da cultura. Estas e outras informações serão debatidas durante o XIV Encontro Técnico Algodão da Fundação MT, em Cuiabá/MT
O
algodoeiro sofre interferência direta de fatores adversos ou favoráveis durante
a safra, com impacto significativo sobre o desenvolvimento vegetativo, produção
e na qualidade da fibra. É exatamente o que está sendo observado durante a
colheita da safra 2021/22 em várias regiões produtoras. Essas informações serão
apresentadas e debatidas durante o XIV Encontro Técnico Algodão da Fundação de
Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso (Fundação MT), de 29 a 31 de
agosto, no hotel Gran Odara, em Cuiabá/MT.
Apesar da
adequada janela de semeadura em janeiro em todas as regiões de Mato Grosso, o
ciclo da cultura foi comprometido pelo excesso de chuvas (resultando em plantas
com raízes superficiais) e temperaturas mais amenas, decorrentes dos dias
nublados no final daquele mês e também no início de fevereiro. “Assim, atrasou em
cerca de 10 a 15 dias o aparecimento do primeiro botão floral e,
consequentemente, o surgimento da primeira flor”, explica o professor Ederaldo
José Chiavegato, doutor em produção vegetal e palestrante convidado do Encontro.
É exatamente isso que se tem constatado em termos de qualidade e produtividade
das plumas colhidas até agora.
Normalmente,
a primeira flor do algodoeiro surge em torno de 55 dias após a emergência.
Contudo, neste ano, segundo o doutor, o aparecimento ocorreu em torno de 65
dias ou mais (10 a 15 dias de atraso, dependendo da região produtora) e isso
aumentou o ciclo da cultura.
Já na
etapa final de floração e início da fase seguinte de maturação, o encerramento
das chuvas em abril teve influência direta na produção. Em alguns anos podem
ocorrer algumas chuvas regionais de
maio, principalmente na região de Campo Novo do Parecis. Porém, não é prudente
que o produtor conte com essas precipitações incertas deste mês, na maioria das
regiões produtoras, para o enchimento das maçãs do ponteiro, principalmente
quando o sistema radicular é superficial como o que encontramos nesta safra”,
alerta o especialista.
40 dias que valem uma safra inteira
Os
primeiros 40 dias do ciclo do algodão (compreendendo a germinação e emergência,
o desenvolvimento inicial e o vegetativo) contempla um dos períodos mais
importantes na produção, ou seja, o potencial produtivo é definido nesta fase.
As
regiões produtoras de algodão de Mato Grosso, com exceção da microrregião de
Primavera do Leste (no Sudeste do Estado), semeiam a segunda safra de algodão a
partir de janeiro, podendo adentrar até a primeira quinzena de fevereiro. É aí
que já começam as preocupações dos cotonicultores pois, neste período, via de
regra as temperaturas são favoráveis para a rápida germinação e emergência,
porém, como comenta Chiavegatto, a alta umidade no solo favorece o estresse
anoxítico, que é deficiência ou falta de oxigênio no solo.
Com essa
soma de fatores, o arranque inicial das plântulas é comprometido, reduzindo o
vigor da cultura. “Temos que considerar que este é um fato real, com altíssimas
probabilidades de ocorrência, com consequências negativas nas fases seguintes
do ciclo. Ou seja, estas condições jamais podem ser negligenciadas”, reforça.
Assim, os
produtores devem sempre considerar ações de manejo para minimizar este cenário,
tais como: qualidade das sementes, profundidade de semeadura e descompactação
do solo. Além disso, proporcionar o adequado balanço hormonal para o processo
de germinação e emergência, entre outras.
Raízes
afetaram a produtividade
A
temperatura e a umidade têm grande influência no crescimento das raízes do
algodão. Quando estão elevadas durante as primeiras semanas após o plantio,
podem prejudicar bastante toda a produção. Nesta fase, o algodoeiro prioriza o
desenvolvimento do sistema radicular, ou seja, danos de quaisquer naturezas
representam diretamente danos à planta. “Condições climáticas adversas e ações
de manejo consideradas inevitáveis (uso de herbicidas, atrasos nas adubações
nitrogenadas, entre outras) contribuíram para um desenvolvimento deficiente do
sistema radicular”, aponta o doutor.
Quais as
consequências?
Via de
regra, para todas as microrregiões produtoras da pluma em segunda safra em Mato
Grosso, é alta a probabilidade de ocorrência de longos períodos de dias
chuvosos, inclusive com grandes volumes, causando nebulosidade. Segundo o
especialista, está evidente, na safra 2021/22, os efeitos deste cenário no
desenvolvimento inicial das plantas.
Ainda de
acordo com Chiavegato, observou-se o aumento do número de nós vegetativos até o
aparecimento do primeiro botão floral. “Normalmente, este número se situa entre
cinco e seis nós. As altas nebulosidades nesse período condicionaram as
temperaturas mais baixas, assim, foi comum verificar o aumento para sete a oito
nós, atrasando o ciclo da cultura em cerca de 10 a 12 dias”, constata o doutor.
Com isso,
houve mudança no final do ciclo para condições mais prováveis de ocorrência de
déficit hídrico. Fato este que, associado ao sistema radicular mais
superficial, pelo excesso de água no solo e falta de oxigênio, comprometeu
severamente o enchimento das últimas maçãs do ponteiro, sobretudo nas épocas
tardias de semeadura.
Para o
doutor, pode-se considerar, cronologicamente, que as janelas de semeadura nesta
safra, em todas as regiões produtoras, foram adequadas. “Porém, os problemas no
final do ciclo com o corte definitivo das chuvas a partir do mês de abril,
durante o enchimento das maçãs de ponteiro e, neste ano, com muitas maçãs de
segunda e terceira posições em fases de enchimento, foram resultantes das
condições climáticas registradas na fase de implantação da cultura”, sinaliza.
Da maturação à colheita
A fase de maturação até a colheita dura cerca de 50 dias e, durante esse
tempo, ocorre o desenvolvimento das sementes e fibras e a abertura das maçãs. É
este período também o responsável pela qualidade do algodão produzido. Ou seja,
temperatura e umidade têm influências significativas no crescimento e
desenvolvimento dos frutos, na formação das fibras, interferindo
consequentemente na qualidade e no rendimento das fibra. O ideal são
temperaturas amenas e diminuição da necessidade hídrica.
O cotonicultor precisa ter em mente que flutuações térmicas, hídricas e
quantidade e qualidade da radiação incidente durante o ciclo da cultura, bem
como das decisões e ações de manejo adotadas desde o estabelecimento inicial
das plantas, interferem fortemente na capacidade delas no enfrentamento das
possíveis variações climáticas nesta fase final. “Podemos ressaltar que dentre
as decisões e ações de manejo, merece atenção por parte do produtor o rigor na
adequação da época de semeadura e das características intrínsecas das
cultivares escolhidas”, orienta o doutor.
Para saber mais sobre o assunto, mais informações serão apresentadas no
evento da Fundação MT. As inscrições estão abertas através da página www.fundacaomt.com.br e whatsapp (66) 9 9995-7814.
Fundação
MT: Criada
em 1993, a instituição tem um importante papel no desenvolvimento da
agricultura, servindo de suporte ao meio agrícola na missão de prover
informação técnica, imparcial e confiável que oriente a tomada de decisão do
produtor. A sede está situada em Rondonópolis-MT, contando com três
laboratórios e casas de vegetação, seis Centros de Aprendizagem e Difusão (CAD)
distribuídos pelo Estado nos municípios de Sapezal, Sorriso, Nova Mutum,
Itiquira, Primavera do Leste e Serra da Petrovina em Pedra Preta.