6 mai, 2022
As primeiras referências de
ocorrências de fitonematoides no Cerrado de Mato Grosso são de 1970. Na época,
eram esporádicas, mas já causavam grandes perdas aos agricultores. O marco
temporal ocorreu na safra 1991/92, quando o nematoide de cisto da soja (Heterodera
glycines) surgiu pela primeira vez, simultaneamente no Triângulo Mineiro,
Mato Grosso do Sul e MT. Diferente do que acontecia até então, essa espécie ocasionou
danos muito severos que impactaram não só visualmente, como no bolso do
produtor.
A partir do nematoide de
cisto, os produtores e pesquisadores puderam entender que esse era um problema
com mais especificidade pela cultura da soja. E a cada ano que deixavam de
semear esse cultivo, as populações reduziam em até 70%. O milho verão passou,
então, a entrar como excelente opção em rotação de culturas.
Junto a isso, o plantio direto
aumentou, a rotação com milheto e gramíneas forrageiras perenes também, além da
intensificação do uso do solo com a sucessão de culturas - milho safrinha com
braquiárias (ou não) e soja-algodão. Neste período, o melhoramento genético da
soja estava debruçado nas raças 1 e 3 de cisto, mas no Brasil e, especialmente
no Cerrado, uma verdadeira “salada de frutas” de raças virou realidade.
E hoje, há a presença de
muitas espécies, grandes áreas com nematoides e, recentemente, o aumento
preocupante com a espécie Rotylenchulus reniformis. Quem cultiva algodão
sabe que é o mais problemático. Ele não causa sintomas drásticos na cultura da
soja, as reboleiras são menos acentuadas e isso acaba confundindo os produtores
com outras causas.
Percepção do produtor
A nematologista e pesquisadora
da Fundação MT, Rosangela Silva, destaca que o produtor precisa melhorar a sua
percepção quanto à ocorrência e prevenção de R. reniformis. Para ela, o
produtor tem a noção do prejuízo no algodoeiro, mas não na soja, já que a
transferência de uma cultura para a outra continua acontecendo, causando perda
de rendimento nas duas em função do parasita.
Desde 2015, a Fundação MT realiza
a avaliação de cultivares de soja plantadas antecedendo o algodão, e o quanto essa
espécie deixa de herança para a cultura do algodoeiro. É visto que a maioria
tem fator de reprodução (FR) alto, gerando essa transferência, e as que tem FR
baixo geralmente não possuem ciclo apropriado para anteceder essa cultura que
vem na segunda safra.
Como proceder com todas as
espécies
Um dos pontos é melhorar o
ambiente para deixá-lo mais favorável à planta e desfavorável para o nematoide,
utilizando a rotação com culturas não hospedeiras, que ainda melhoram a
estrutura do solo.
Além disso, é importante
ressaltar que o manejo inadequado tem muita causa para a ocorrência dos
nematoides. No caso de Pratylenchus, há altas populações sem muitos
danos, em outras vezes o contrário. Então não é possível atribuir apenas ao
fato de multiplicou ou não multiplicou, não é a única observação a ser feita. Ou
seja, toda a integração de manejo é o diferencial.
Um bom planejamento, olhar
para um longo prazo e não ser imediatista é o ideal. Pensar, por exemplo, o que
os biológicos vão dar de retorno lá na frente. Ou também que é melhor perder 10
sacas de milho com o consórcio, mas ganhar nos cinco anos subsequentes fazendo
a prática, e melhorar a biologia do solo.
Hoje existem ferramentas para
contornar as dificuldades. O ideal, no entanto, é começar a prever antes que o
nematoide aconteça. Quando a situação não é mais sustentável, é preciso atacar.
De forma organizada, talhão a talhão, tentando minimizar o problema com o tempo.