22 mai, 2023
Pesquisas
da safra 2022/23 trazem novos resultados sobre podridão de grãos e vagens e quebramento
de hastes de soja
A podridão de grãos e vagens e
quebramento em hastes de soja continuaram presentes na safra 2022/23 nas
lavouras de Mato Grosso e de outros estados, mas com menores impactos em
produtividade. As investigações acerca do problema também fizeram parte das
pesquisas da Fundação MT nesse período, no Médio-Norte do Estado, através de
diferentes estratégias e metodologias conduzidas pelos pesquisadores da área de
Fitopatologia e Biológicos.
O ponto de partida antes do
início da safra foi a identificação dos possíveis agentes causais envolvidos
nos sintomas. Os pesquisadores passaram a coletar amostras no campo e fazer o
isolamento de tecidos sintomáticos e assintomáticos. Além disso, foram
realizados ensaios de inoculação de isolados de Diaporthe, obtidos na
safra anterior (21/22).
Nos ensaios a campo utilizaram
estratégias baseadas no tratamento de sementes, épocas de aplicação e modos de
ação de fungicidas, além do monitoramento de esporos, feito pela primeira vez nesta
safra para entender a disseminação de possíveis fungos causadores dos problemas.
Ao final, também fizeram estudos de germinação e emergência com grãos colhidos
na safra, a fim de entender o impacto causado pelos sintomas. Em todo o
trabalho a metodologia de avaliação foi baseada em três frentes: grãos com
sintomas de podridão, os avariados e vagens com sintomas.
Identificação dos agentes
bióticos
Para a identificação de
algumas espécies de fungos, como os gêneros Colletotrichum, Fusarium,
Phomopsis/Diaporthe e Cercospora é necessária a utilização de
métodos moleculares, pois esses fungos apresentam espécies muito similares
morfologicamente. Dessa forma, as amostras foram enviadas ao laboratório para
isolamento e identificação.
As análises a partir das
hastes das plantas de soja indicaram a presença em maior frequência dos fungos Colletotrichum
spp, e Diaporthe spp. No caso do Diaphorte, a análise
molecular indicou a presença da espécie Diaporthe ueckarae. Também foram
identificados Macrophomina phaseolina e espécies pertencentes ao Complexo
Fusarium incarnatum-equiseti.
Para os dados de isolamento a
partir das vagens com e sem sintoma de apodrecimento, a maior frequência de
isolamento foi observada para os fungos do gênero Colletotrichum spp. e
de espécies pertencentes ao Complexo Fusarium incarnatum equiseti, nas
vagens que não apresentavam sintoma de apodrecimento. Já nas vagens que
apresentavam sintomas, os dois Complexos de Fusarium foram isolados com
maior frequência.
Os pesquisadores explicam que
essas informações acerca dos fungos isolados podem sinalizar o envolvimento
destes com o apodrecimento de grãos e vagens, mas não esclarecem qual ou quais
podem desencadear o início do processo de infecção, e quais podem potencializar
o problema, uma vez que os fungos identificados já são conhecidos do sistema de
produção.
Cultivares
Nos ensaios de competição de
cultivares, os materiais foram testados em três épocas de semeadura diferentes
(29/09, 08/10 e 19/10) e sem distinção no programa de tratamento com
fungicidas. Houve diferenças nas respostas dos materiais genéticos para os dois
problemas – quebramento e podridão. Assim como nas áreas comerciais, que nesta
safra apresentaram menor incidência de quebramento, na área experimental
observou-se plantas quebradas em apenas um material, plantado em 19/10.
O principal foco desse ensaio
foi avaliar a influência da época de semeadura e das condições que a planta
enfrenta durante o seu desenvolvimento que poderiam resultar em maior ou menor
ocorrência do problema. O plantio de 29/09 foi o que mais apresentou sintomas
de podridão para a maioria dos materiais. Apenas para uma das cultivares o
sintoma de podridão foi maior na semeadura de 08/10. Já um material apresentou
o mesmo comportamento, independente da época de semeadura. Esses dados servem
como um indicativo para os programas de melhoramento avançarem no
desenvolvimento de fontes de resistência.
Com relação à produtividade, o
estudo verificou o percentual de redução de PMG de cada material. No plantio de
08/10 as reduções foram de 7% a 28% e no plantio de 19/10 houve redução de 15%
a 33%.
No caso do quebramento, as
respostas observadas na safra anterior (21/22) para alguns materiais não se
repetiram na safra 22/23. Já para o apodrecimento de grãos, desde o início das
avaliações não foram observados materiais imunes ao problema, mas sim
apresentando maior ou menor sensibilidade.
Fungicidas
Dentro das percepções dos
ensaios conduzidos na safra 22/23, a aplicação de fungicidas teve resultados
sobre o aparecimento e a evolução dos sintomas de apodrecimento. O comparativo foi
entre testemunhas, sem aplicações de fungicidas, e tratamentos com aplicações
de fungicidas. A adição de multissítios, bem como o uso de carboxamidas no
manejo, rotacionado com triazóis e estrobilurinas tem sido fundamental para a
redução dos sintomas de apodrecimento dos grãos, especialmente com uma a duas
aplicações posicionadas nas primeiras aplicações.
No que tange ao momento de
aplicação, observou-se que aplicações aos 25/30 DAE são relevantes para a redução
de incidência do problema, com intervalos de no máximo 15 dias.
Considerações
Ensaios conduzidos pela
Fundação MT ao longo das três últimas safras indicam que há diferenças no
momento de aparecimento dos sintomas e na evolução da severidade, em diferentes
épocas de semeadura da soja, tanto para o quebramento da haste, como o
apodrecimento das vagens e grãos. Isso porquê, entende-se que a condição
ambiental é um fator que têm influência direta na ocorrência do problema.
Apesar de ainda ser necessário
a continuidade das pesquisas, alguns pontos já mostraram ter influência sobre a
severidade dos sintomas e são consideradas por muitos produtores no
planejamento da safra: informações sobre a sensibilidade dos materiais, adoção
de programas de fungicidas que sejam eficientes, somados à tecnologia de aplicação
adequada e que garanta a qualidade. Além disso, a compreensão da janela de
semeadura em função do histórico das áreas e das condições climáticas são
fatores importantes.
Os dados compilados completos
podem ser acessados no aplicativo da Fundação MT, na aba eventos – XXIII
Encontro Técnico Soja.